sábado

Tudo estava muito bem até o gancho da interrogação agarrar minha goela e me impedir a entrega absoluta. Agora não posso mais abrir os meus braços e lançar-me na sorte da atividade desconhecida, já que agora as consequências devem ser calculadas, os motivos esclarecidos e suas etapas minuciosamente estruturadas.

Daí quando vem aquela sensação de felicidade desinflada nos perguntamos como isso pode estar acontecendo.
Eu tenho que lembrar, me esforçar e enfiar dentro da minha cabeça que isso não funciona e que pra eu conseguir o que eu quero eu preciso fingir igual a todo mundo e parar de apontar a mentira dos outros.

Ou eu tenho que esquecer a mentira.

quarta-feira

ainda existe surpresa dentro do possível.

domingo

Quando a alegria bate à nossa porta, ah, é uma delícia. Todos os nossos sentimentos de tristeza são varridos para o sótão mais escondido! E não há quem nos convença de que aquilo é pura consequencialidade circunstancial, pois é maravilhoso demais, puro demais, pra ser interrompido por qualquer invejoso que não conseguiu alcançar a mesma felicidade.

terça-feira

E desde o início desse grito no travesseiro eu penso: chega de falar da coisa. Vamos mudar de assunto.
Mas aí eu vejo que não dá certo, tudo vira coisa camuflada, a coisa se esconde dentro da coisa. Mesma coisa de qualquer jeito. E daí minha vontade é me calar pra sempre. Mas o silêncio é coisa disfarçada de transparente: ela está ali, escutando. E então eu brinco de fugir.